sábado, 5 de fevereiro de 2011

Conexão EUA, Texas, Fort Worth e Batistas do Brasil. Como controlar mentes em nome de Deus.

Amig@s,

Reproduzo artigo de Robert Kennedy Jr, disponível na página do Luiz Carlos Azenha.

Pense na cidade de Dallas, pense no Texas... Na cidade de Fort Worth, vizinha de Dallas, mais precisamente no Southwestern Baptist Theological Seminary, estudaram os mais "ilustres" e "respeitados" líderes da Convenção Batista Brasileira. Lá beberam "Destino Manifesto" e arrotaram "Fundamentalismo". Lá, nos mesmos anos dos fatos narrados no texto abaixo, aprenderam a controlar as "ovelhas rebeldes tupiniquins".

Como criar uma Igreja alheia à sociedade, fundamentalista, direitista e incapaz de pensar: mande os líderes para o Texas. Eles mandaram...

[Anúncio de página inteira publicado no Dallas Morning News no dia do assassinato de JFK, em que ele é acusado de ser comunista]

Nas ondas do ódio radioativo

Após a morte de JFK, vozes do extremismo de direita se afastaram um pouco do rádio e TV. Agora voltaram, diz sobrinho de Kennedy

por Robert F. Kennedy Jr., traduzido por Terezinha Martino, no Estadão

No dia 22 de novembro de 1963, minha mãe foi me buscar na Sidwell Friends School, em Washington. Quando seguíamos para casa, em Hickory Hill, norte da Virgínia, observei que todas as bandeiras da cidade estavam a meio pau. Minha mãe disse que um homem malvado tinha atirado no tio Jack e ele tinha ido para o céu. Um amigo do meu pai, Dean Markhan, ex-companheiro do time de futebol em que ele jogava e promotor da divisão de combate ao tráfico, foi buscar meu irmãozinho David na escola Our Lady of Victory. “Por que eles mataram tio Jack?”, David perguntou a ele. Dean, ex-fuzileiro naval, veterano de combates, conhecido como um dos mais robustos atacantes do Esquadrão GI Bill — o mais forte time de futebol [americano] da história da Universidade de Harvard –, não era tão forte para enfrentar aquela pergunta. E chorou silenciosamente durante todo o caminho percorrido.

Quando cheguei em casa meu pai estava no jardim com Brumus, nosso terra-nova, e Rusty, um setter irlandês. Corremos em sua direção e o abraçamos. Todos choravam. Ele nos disse: “John teve a vida mais maravilhosa possível e jamais teve um dia triste”.

Nem Glenn Beck, Sean Hannity ou Michael Savage, nem os odiosos mercadores da Fox News e dos programas de rádio podem dizer que inventaram seu estilo.

[PS do Viomundo: O autor se refere a jornalistas-militantes da extrema-direita]

A virulência tóxica da direita dominava de tal forma as ondas de rádio desde a era McCarthy até 1963 que o presidente John Jack Kennedy, naquele ano, lançou uma campanha para implementar a Fairness Doctrine (Doutrina da Imparcialidade), que exigia exatidão e equilíbrio no rádio e na TV. Estudantes, grupos religiosos e de cidadãos registraram mais de 500 queixas na Comissão Federal de Comunicações contra extremistas de direita e apresentadores que disseminavam o ódio.

Os programas transmitidos em Dallas eram radioativos: pregadores, líderes políticos e empresários locais cuspiam a virulência extremista, inflamando as paixões de legiões de fanáticos desequilibrados. Havia alguma coisa naquela cidade — cólera ou loucura — que, conscientemente ou não, parecia preparar o terreno para o assassinato de Jack. A Voice of America, meia hora após o assassinato do presidente, descreveu Dallas como o “centro da extrema direita”. Texas era um tal caldeirão de corrupção da direita que o historiador William Manchester a retratou como a cidade que lembrava os dias finais da República de Weimar. “Coisas insanas ocorriam”, reportou Manchester. “Enormes cartazes exigiam o ‘impeachment’ de Earl Warren (presidente da Suprema Corte, responsável pelo fim da segregação nas escolas; depois presidiu a comissão Warren, que investigou o assassinato de Kennedy)”.

Lojas de judeus eram pichadas com suásticas. Jovens donas de casa se sacudiam em público ao canto “Stevenson’s going to die — his heart will stop, stop, stop and he will burn, burn, burn”(Stevenson vai morrer — e seu coração vai parar, parar, parar e ele vai queimar, queimar, queimar).

Manchester continua: “Dallas tornou-se a meca dos festivais de cura dos evangélicos da National Independence Convention, das Cruzadas Cristãs, dos Milicianos, da Sociedade John Birch e das Sociedades Patrick Henry e a sede do explorador de petróleo, de direita, H. L. Hunt e suas atividades duvidosas. O prefeito da cidade, o direitista Earl Carrol, era conhecido como ‘prefeito socialista de Dallas’ por ter mantido sua filiação no Partido Democrata”.

[Nota do Viomundo: O autor se refere, acima, a grupos da extrema-direita de então, antecessores do Tea Party]

O discurso de tio Jack em Dallas deveria ser um ataque violento contra a direita. Ele encontrou as ruas abarrotadas de democratas seus partidários, mas entre eles eram vistos os ornamentos familiares do ódio contra o presidente: bandeiras confederadas, centenas de cartazes exibindo uma foto de Jack com a inscrição “Procurado por traição”. Um homem portava uma faixa que dizia: Você um traidor (sic)”. Outras faixas o acusavam de ser comunista. Quando os alto-falantes da escola anunciaram o assassinato de Jack, alunos do quarto anos aplaudiram. Um ouvinte de rádio ligou para dizer que “qualquer branco que fez o que fez pelos negros deve ser morto a tiros”.

Quando meus irmãos e eu fomos à Casa Branca para consolar meus primos John e Caroline, um grupo desfilava diante da residência exibindo um cartaz que dizia “Deus puniu JFK”.

Jack tinha recebido uma infinidade de advertências para não visitar a cidade texana. De fato, um pressentimento tomava conta da nossa família quando ele e a tia Jackie se preparavam para a viagem. Jack fez uma visita não programa a Cape Cod para se despedir do meu avô doente. Na noite anterior à viagem, minha mãe sentiu que ele estava ausente e taciturno no jantar para os juízes da Suprema Corte.

A morte de Jack forçou um autoexame nacional. Em 1964, os americanos repudiaram as forças do ódio e da violência da direita com histórica e esmagadora vitória na eleição presidencial disputada por Lindon Johnson e Barry Goldwater. Por um tempo os promotores do extremismo de direita se afastaram do pódio público. Agora retornaram, pensando em vingança, ao rádio e à TV e a importantes posições no cenário político.

Gabrielle Giffords continua num quarto de hospital lutando pela vida. Uma garota de 9 anos e outras cinco pessoas estão mortas. Oremos por elas e pelo nosso país e esperemos que essa tragédia leve a um novo exame de consciência.

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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Que Igreja é essa?


Tomo a pena na mão, depois de longo inverno, para tentar refletir um pouco acerca de um fenômeno crescente, intrigante e revelador: a influência da "moral evangélica" no processo eleitoral e, por que não, na sociedade brasileira.

O que durante muito tempo foi apenas um gueto, agora é o fiel da balança. O grande arraial evangélico, de tantas cores e tons, revela sua essência tão incrivelmente semelhante.

Nas eleições municipais aqui do Rio de Janeiro, já se viam, de longe, as bem-sucedidas operações de boataria, calúnia e, sobretudo, manipulação do tacanho e incompetente horizonte de reflexão política do povo evangélico.

Cito uma experiência pessoal. Em 2008 fui presidente da Associação de Igrejas Batistas na Ilha do Governador, instituição meramente denominacional, que estimula o trabalho conjunto das Igrejas Batistas do bairro. Quem conhece, sabe que a política aqui da Ilha é dominada por uma única família e sustentada por currais eleitorais. Sofremos com vários problemas sociais que nunca são discutidos no âmbito da denominação. Mas naquele ano concorria à prefeitura alguém chamado Fernando Gabeira (PV), personagem controvertido e de fama absolutamente reprovável aos olhos das lideranças evangélicas. Foi então que, no 2º turno, diante do crescimento de Gabeira nas pesquisas, mesmo lutando contra a máquina da aliança Cabral-Lula, recebi uma ligação de uma liderança política daqui. Na ligação, a pessoa que me identificava como presidente da Associação, convocava uma reunião com as lideranças evangélicas do bairro para tratar de um assunto de interesse de todos: A AMEAÇA GABEIRA. Dizia ela: "Ele vai legalizar a maconha, vai legalizar o casamento de homossexuais, vai transformar a cidade em Sodoma e Gomorra...". Em nossa Igreja, ouvi diversas pessoas dizerem que não tinham escolha: não poderiam votar num "homossexual maconheiro".

No 1º turno, Eduardo Paes, apoiado pela Igreja Católica, fora abençoado pelo arcebispo da cidade. Marcelo Crivella, Bispo da Igreja Universal, foi abençoado por Edir Macedo. No 2º turno, Paes ganhou a dupla bênção. E a eleição. O resultado foi impressionante: Eduardo Paes, do PMDB, que no PSDB tinha ofendido Lula e sua família na crise do mensalão, era eleito prefeito com 1.696.195 votos (50,83%), contra 1.640.970 votos (49,17%) de Fernando Gabeira. A abstinência foi recorde: mais de 900 mil eleitores não compareceram às urnas.

O eleitorado evangélico declarou, em peso, rejeição à Gabeira.

Agora, em 2010, o mesmo PV odiado pelos evangélicos do Rio de Janeiro teve como candidata à presidência Marina Silva, evangélica. Assistimos, então, ao fenômeno da conversão: o PV arrebatou mais de 2,5 milhões de votos no estado e Marina se transformou em xodó das igrejas. No cenário nacional, foi notória a participação dos evangélicos e sua responsabilidade na realização de um 2º turno.

Fui pressionado, enquanto pastor, a exibir um vídeo amplamente divulgado pelas igrejas, onde um pastor batista pede abertamente aos membros de sua igreja que não votem no PT, pois esse partido deseja institucionalizar a iniqüidade e assim trazer o juízo de Deus ao Brasil. Parece loucura medieval, mas é verdade. Parece ridículo, mas quase 3 milhões de pessoas assistiram ao vídeo no You Tube e milhares de igrejas o exibiram durante seus cultos. O voto de cabresto ameaçava apenas para essa vida. Não obedecer ao pastor e votar no PT é uma ameaça para toda a eternidade.

Agora, diante do 2º turno, ouvi alguém dizer lá na Igreja: "Se a Dilma ganhar, estamos fritos. Meu neto me mostrou um e-mail que conta detalhes do programa dela. O PT pretende fechar igrejas, legalizar a pedofilia, obrigar as igrejas a aceitarem os homossexuais... E tem mais: o Michel Temer - vice da Dilma - é satanista. A Dilma está doente. Vai morrer. O vice assume e teremos um satanista como presidente do Brasil. Cuidado!"...

É demais!

Por isso o título desta postagem. Que Igreja é essa? Somos rebanho mesmo! Massa de manobra. Incapazes de refletir criticamente. Guiados por ventos, modas, tv, rádio e Internet.


Estou cada vez mais convencido de que essa Igreja que aí está pode ser tudo, menos o que Jesus veio fazer aqui.

Continuem, igrejas. Continuem com seus projetos de mega-templos, CD's, programas de TV, cristandade... Continuem, pastores, com seus grandes salários, carros, conforto, brisa, fama e poder. Continuem. O Inferno é logo ali. Ele, para vocês, existirá com chamas ardentes.

Só peço a Deus que me dê um coração sensível. E olhos. Olhos que percebam Jesus nos famintos, nus, sem-teto e sem-terra, enfermos, presos e marginalizados, escondidos nas manjedouras ou bem presentes no caminho entre Jerusalém e Jericó.

Deus, ajuda-nos! Livra-nos desta igreja...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido...


Dois anos se passaram desde o início da peregrinação.

Em 28 de outubro de 2007, cerca de 45 famílias, de 120 que saíram do Egito, entravam na Terra Prometida. Um antigo prédio do INSS no Centro do Rio de Janeiro, há muito fechado, se transformou na “terra que emana leite e mel”, para mulheres, homens e crianças.

Organizados no Movimento Nacional de Luta por Moradia, tendo como Moisés a guerreira Maria de Lourdes Lopes (Lurdinha), depois de peregrinar no antigo Cine Vitória, e em muitos outros lugares, conseguiram, por fim, ver Faraó cair e entraram “a pés enxutos” na herança de Javé, constituindo-se hoje em mais um grandioso exemplo da força da mobilização popular.

A Ocupação foi batizada de Manuel Congo, em homenagem ao líder da maior rebelião de escravos no Vale do Paraíba do Sul, entendendo que preservar a memória é indispensável na caminhada (Deut. 6). A ocupação completou dois anos cantada na doce voz das crianças, que juntas num lindo coro ensinavam os presentes que “é preciso coragem”.

Um ano de cozinha comum, uma máquina lavar com um tanque por andar até o dia de hoje, banheiros comuns, escalas de limpeza, assembléias quase semanais... Quanto foi preciso aprender... Quanto se tem aprendido... Quanto podem ensinar ao mundo? Sim, outras relações são possíveis! Que transformação é essa, feita sem a força de armas, que une famílias num ideal sublime, que num tempo de notícias ruins, encarna a Boa-Nova?

A Ocupação Manuel Congo mexe com meus sonhos. Ela, de fato, aquece meu coração. Quem ouve sua história, quem conhece seu povo e celebra suas vitórias, vê, sente e experimenta a presença do Deus da Vida.

sábado, 14 de novembro de 2009

Duque de Caxias pertence a Poseidon

Estamos falando da cidade que tem o 15º PIB do Brasil, o 2º do Estado do Rio. Duque de Caxias tem, segundo o Censo 2008, 864.392 habitantes - e R$ 21.000,00 de PIB per capta! Essa deveria ser uma cidade modelo. Mas não é. E as enchentes dessa semana nos ajudaram a ver isso de maneira mais contundente.

Duque de Caxias vive o fenômeno da multiplicação de igrejas evangélicas, com crescimento explosivo do número de convertidos. É comum, em qualquer rua ou avenida da cidade, a presença de inúmeros templos, quase sempre lotados. Mais um motivo, poder-se-ia dizer, para imaginar uma cidade que encarnasse os valores do Evangelho. No entanto, sou forçado a questionar o que se alardeia com tanta pretensão: "Duque de Caxias pertence a Jesus!". Pode até ser, num sentido exclusivamente dogmático, mas as recentes enchentes nos mostram um município com a cara de Poseidon, o deus dos mares e das águas.

É justamente na pretensão evangélica que reside minha indignação. Preciso saber quantos/as pastores/as e líderes de igrejas evangélicas ocupam seus púlpitos neste momento para questionar as autoridades públicas quanto ao quadro cruel e desumano, criado não pela chuva, mas pelo abandono e pela ausência do poder público. Preciso saber quantos/as colegas, nesse momento, choram com suas ovelhas e as orientam na luta por mudanças profundas em sua cidade. Preciso saber porque desconfio que a voz da igreja anuncia a Barra da Tijuca como prêmio para os "fiéis a Jesus", e se contenta em consolar os que por ora "são provados em sua fé". Então, amigos/as pastores/as, o que essas imagens exigem de nós, seguidores/as de Jesus?
Preciso desesperadamente saber se amanhã vozes proféticas denunciarão o descaso do poder público ou vozes loucas reclamarão da parada gay. Preciso saber...

Parece óbvio que existe um grande problema em nossa reflexão teológica. Parece óbvio, também, que dizer às pessoas das fotos acima que um "maravilhoso céu as espera" é absolutamente desnecessário, covarde, alienante e, por que não, demoníaco.

Perdoem-me a indignação e dureza das palavras. Repito-as para mim mesmo todos os dias. Penso que Jesus, entre nós, faria um chicote e nos expulsaria da igreja.

No meio disso tudo, não posso deixar de comentar o que é um claro sinal do Deus da Vida para cada um/a de nós.
Essa é uma imagem messiânica. Vejo, nessa criança resgatada da enchente, o Menino Jesus... Ou quem sabe Moisés. É dela que minha Bíblia fala. É isso que meu Deus me fala.

Procuro, na multidão, pedir ao Senhor que me ajude a identificar o Cristo (Mateus 25)... Mas também o Herodes, o faraó...

Para o Natal que se avizinha, já montei meu presépio!