sábado, 14 de novembro de 2009

Duque de Caxias pertence a Poseidon

Estamos falando da cidade que tem o 15º PIB do Brasil, o 2º do Estado do Rio. Duque de Caxias tem, segundo o Censo 2008, 864.392 habitantes - e R$ 21.000,00 de PIB per capta! Essa deveria ser uma cidade modelo. Mas não é. E as enchentes dessa semana nos ajudaram a ver isso de maneira mais contundente.

Duque de Caxias vive o fenômeno da multiplicação de igrejas evangélicas, com crescimento explosivo do número de convertidos. É comum, em qualquer rua ou avenida da cidade, a presença de inúmeros templos, quase sempre lotados. Mais um motivo, poder-se-ia dizer, para imaginar uma cidade que encarnasse os valores do Evangelho. No entanto, sou forçado a questionar o que se alardeia com tanta pretensão: "Duque de Caxias pertence a Jesus!". Pode até ser, num sentido exclusivamente dogmático, mas as recentes enchentes nos mostram um município com a cara de Poseidon, o deus dos mares e das águas.

É justamente na pretensão evangélica que reside minha indignação. Preciso saber quantos/as pastores/as e líderes de igrejas evangélicas ocupam seus púlpitos neste momento para questionar as autoridades públicas quanto ao quadro cruel e desumano, criado não pela chuva, mas pelo abandono e pela ausência do poder público. Preciso saber quantos/as colegas, nesse momento, choram com suas ovelhas e as orientam na luta por mudanças profundas em sua cidade. Preciso saber porque desconfio que a voz da igreja anuncia a Barra da Tijuca como prêmio para os "fiéis a Jesus", e se contenta em consolar os que por ora "são provados em sua fé". Então, amigos/as pastores/as, o que essas imagens exigem de nós, seguidores/as de Jesus?
Preciso desesperadamente saber se amanhã vozes proféticas denunciarão o descaso do poder público ou vozes loucas reclamarão da parada gay. Preciso saber...

Parece óbvio que existe um grande problema em nossa reflexão teológica. Parece óbvio, também, que dizer às pessoas das fotos acima que um "maravilhoso céu as espera" é absolutamente desnecessário, covarde, alienante e, por que não, demoníaco.

Perdoem-me a indignação e dureza das palavras. Repito-as para mim mesmo todos os dias. Penso que Jesus, entre nós, faria um chicote e nos expulsaria da igreja.

No meio disso tudo, não posso deixar de comentar o que é um claro sinal do Deus da Vida para cada um/a de nós.
Essa é uma imagem messiânica. Vejo, nessa criança resgatada da enchente, o Menino Jesus... Ou quem sabe Moisés. É dela que minha Bíblia fala. É isso que meu Deus me fala.

Procuro, na multidão, pedir ao Senhor que me ajude a identificar o Cristo (Mateus 25)... Mas também o Herodes, o faraó...

Para o Natal que se avizinha, já montei meu presépio!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

I Encontro "Igreja & Transformação Social" - Ilha do Governador/RJ

Veja no BLOG do ISER/Assessoria
Veja no BLOG do "Fé e Cidadania" de Niterói

Já era hora de movimentar esse blog. No meio de tantas idas e vindas, estive um tempo "fora do ar". Isso mesmo. É tempo de caminhar sobre a terra e transformar idéias em atos. Essa foi a proposta do I Encontro "Igreja & Transformação Social" da Ilha do Governador, realizado nos dias 3 e 4 de outubro, na Igreja Batista em Jardim Duas Praias, nossa casa.

Ao longo de uma tarde (03) e manhã (04), batistas e católicos discutiram a importância da reflexão política a partir da vivência e da prática da fé cristã. Descobrimos que, querendo ou não, são decisões políticas as que mais diretamente influenciam nossas vidas. É uma exigência da fé cristã que, de mãos dadas, participemos dos destinos de nossa nação, agindo sempre em defesa dos pobres e oprimidos, uma vez que essa foi a opção de Jesus, como nos narram os evangelistas.

No primeiro dia, o professor Tobias Faria, assessor da Rede "Fé e Política" do estado do Rio de Janeiro, caminhou conosco nos mostrando como a Bíblia é clara em defender um projeto de vida para todos e todas, em contraposição ao sistema de morte, dominante em nossa realidade. Refletimos sobre a necessidade de, como igreja, sermos defensores e propagadores desta mensagem de vida em abundância, tão ausente nos rostos ao nosso redor. Como foi bom descobrir que damos 1/3 do nosso trabalho nas mãos de nossos representantes, os mandatários, e por isso precisamos acompanhá-los, fiscalizá-los e exigir que cumpram seu papel na construção de uma sociedade justa, fraterna e humana. Ao fim deste dia, discutimos iniciativas concretas que podem se tornar factíveis em nossa realidade local. Como comunidade batista, foi realmente libertador saber que temos irmãos e irmãs de fé, caminhada e luta na igreja católica.

No domingo, o professor Fábio Py, biblista, trabalhou conosco um texto dos Atos, auxiliando-nos a identificar, no cristianismo nascente, a opção radical por uma vida de igualdade e partilha, sem a qual o movimento cristão teria perecido.

Foi apenas um passo na longa caminhada. Mas demos esse passo juntos, quebrando barreiras, abrindo-nos ao novo, convivendo com as diferenças e, sobretudo, descobrindo um Jesus tremendamente humano e comprometido com a Vida, nossa vida e vida dos que estão ao nosso redor.

É bom poder entrar na roda... Então vem, entre nela com a gente!